Paciência

Palavra que sempre espera.

Não se irrita,

sempre esmera.

Cada fio do tempo tece

com capricho

e com afeto.

Não se assusta com a dor.

Continua sempre.
É puro amor.

E espera um dia,

não importa

de que jeito,

viver de poesia.

É parte da esperança,

pois, como dizem,

"quem espera sempre alcança".

E se não ganha,

não se cansa

do "trabalho" de viver.

Espera, sem saber,

que a espera é a própria vida:

uma dança

e uma lida

tecidas de dor e prazer.

De pedra

à deriva

na aurora vazia

sem resgate

deixo que o mar me leve

aonde quiser

até as pedras

no rolar das ondas

sem fim

até ser pedra

com suaves ondas

em mim

(fev/16)

Deriva

Perdida na noite
fria, vazia
e surda,
espero o resgate:
o resgate do que fui
e do que poderia ser,
no desgaste do que sou.

Penso para onde vou
e por que não vou.
Aonde devo ir?
No caminho que percorri,
o sentido já perdi,

e já não faz sentido
ficar ou partir.
Já não sinto
e não me encontro
dentro ou fora de mim.

Sozinha, à noite,
tento fechar meus olhos
e achar aqui dentro
a luz que se apagou,
a canção que ora tocou,
o resgate de um sentimento...

(15/02/2016)

"Bell Rock Lighthouse" - J. M.William Turner (1819)

Três da manhã (Très)

a poesia
me chamou
com sede
virou de frente
e verso
e na terceira
margem
virou
poema

e aquela lembrança
que não sai de mim
virou palavra
em silêncio,
na vertical
madrugada

A poesia não quer dormir...

Rascunho

Fazia tempo que não parava pra pensar num poema...
Estive treinando nas dunas do Santinho e andei refletindo sobre o momento que estou passando em minha vida, sobre o qual não vou falar senão em forma de rascunho de poema . Tá péssimo, mas como não quis perder a idéia, resolvi colocar no blog. A idéia central é que tudo muda, e nada melhor que as dunas pra representar isso.


Ampulheta

as dunas se movem
e me removem
todo o mal

a duna se renova
eterno encontro
de areia e sal

e chego ao mar
pra mergulhar
nos pensamentos

em meio ao vento,
sal e suor
me reinvento

Palavra guardada

o que não se diz
o que não se
diz
contra
diz

o que se declara
a fala
mascara
condiz

se o que se sente
não se fala
é que não há
palavras

o que só o coração vê
a boca
mascara

na palavra
resvala
o que não se quer

e a boca cospe
lava

no coração
se guarda
o que não se sabe dizer

e a boca bebe
a lágrima

Diálogo na montanha

Perguntais por que moro na verde montanha.
Intimamente sorrio, mas não posso responder.
As flores de pessegueiro são levadas pela água do rio...
Há outro céu e outra terra, para além do mundo dos homens.

Li Po, poeta chinês. Tradução: Cecília Meireles.

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